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A silagem de capim para a alimentação dos bovinos de leite é utilizada há bastante tempo no Brasil, já que preserva as qualidades in natura da forrageira.
A conservação de forragem pela técnica da ensilagem consiste no acondicionamento do material em meio anaeróbio. Devido à ausência de oxigênio, ocorre a paralisação da atividade das células vegetais e o desenvolvimento de microrganismos que têm a capacidade de usar os carboidratos solúveis disponíveis no meio em prol do seu crescimento.
Eles convertem açúcares solúveis em ácidos orgânicos (como lático, acético e propiônico, entre outros), promovendo o abaixamento do pH e a inibição de grupos microbianos indesejáveis. Portanto, a conservação do material ensilado se dá por meio da acidificação.
O manejo facilitado de diversas forrageiras, bem como suas características intrínsecas que potencializam a fermentação, faz desse método uma estratégia vantajosa para quem deseja ser um grande produtor de leite. Continue a leitura e saiba mais sobre as vantagens da silagem de capim!
O método de conservação de alimentos é muito importante para a agropecuária. O Brasil é um país tropical com períodos de seca e chuvas bem-definidos ao longo do ano. No período das águas, tem-se um bom desempenho das forragens e, algumas vezes, os animais não são capazes de consumir toda a silagem produzida.
Já na época das secas, com falta de chuva e temperaturas mais amenas, as forragens não conseguem atingir um bom crescimento, faltando alimento para os animais. Para contornar esse desafio, uma estratégia é armazenar o capim excedente produzido na época das águas para fornecê-lo como alimento ao gado na época de baixa produtividade dos pastos.
Como explicamos, o processo de ensilagem compreende em armazenar anaerobicamente o alimento para manter as suas características nutricionais. Essa técnica permite estocar uma grande quantidade de volumoso em um espaço menor, uma vez que a forrageira é picada e compactada.
O principal objetivo da ensilagem é preservar o máximo de nutrientes do capim natural na sua forma conservada, e isso é alcançado graças ao processo de fermentação. Após cerca de 30 dias, a silagem está pronta para ser consumida pelo rebanho, mas tem durabilidade de 18 a 24 meses quando ensacada.
Sendo assim, como mencionamos no tópico anterior, é possível fornecer um alimento de qualidade aos bovinos de leite durante o período seco do ano ou em épocas de escassez de recursos, sem maiores preocupações.
As culturas do milho e do sorgo são amplamente difundidas para essa técnica de conservação.
Porém, a silagem de capim (como Mombaça, Tanzânia, Brachiaria, Tobiatã e capim-elefante) traz benefícios devido à produtividade elevada de matéria seca (MS) por hectare que apresenta quando bem manejada.
Para você ter uma ideia, milho e sorgo têm 15 a 20t MS/ha, enquanto as plantas que citamos podem atingir entre 30 e 60t MS/ha. Além disso, há menor limitação topográfica para produzir esses capins perenes em comparação às culturas do milho e do sorgo.
Um ponto importante a ser mencionado é que, em determinadas situações, a silagem de capim apresenta baixo teor de matéria seca (MS) e elevado teor de umidade. Isso acarreta em perdas consideráveis na forma de efluente, um material repleto de nutrientes.
Em função do baixo teor de carboidratos solúveis na maior parte das forrageiras tropicais, devem haver maior cuidado na ensilagem para preservar esse nutriente e evitar as perdas por respiração.
Além disso, a elevada concentração de potássio (K), comumente observada em silagens de capins tropicais, pode dificultar o ajuste da relação cátion/ânion nas rações oferecidas às vacas leiteiras na fase pré-parto. Contudo, com o auxílio da nutrição de precisão, é possível minimizar tais efeitos incluindo aditivos que viabilizam o aumento da MS da massa ensilada.
Entre os aditivos mais utilizados estão:
A disponibilidade de volumoso permite que o produtor aumente o número de bovinos por área de pastagem durante o período das águas e mantenha essa lotação na época das secas. Visto que há alimento disponível para o rebanho, a silagem de capim garante que os animais permaneçam com elevada produção de leite e não percam peso.
Outra vantagem da silagem de capim é que, quando a forrageira escolhida tem alta produtividade, há uma tendência de redução de custos com adubos, implementos e manejo em geral.
Além disso, isoladamente, a silagem de capim tem menor custo ao ser comparada a outras opções de suplementação de volumoso, mas é importante avaliar a ensilagem de modo conjunto aos outros componentes da dieta.
Tais medidas são fundamentais para as tomadas de decisão, sobretudo se a pecuária de precisão — que confere maior competitividade no mercado.
Cabe destacarmos que, para a obtenção do sucesso na produção de silagem, é preciso atentar para o uso da técnica, devendo-se:
Também é preciso ter atenção às características intrínsecas do material a ser ensilado, o teor de composição química, a população epifítica, os carboidratos solúveis, a capacidade tampão e a produção de ácidos orgânicos.
Nesse sentido, informe-se sobre as condições ideais para cada espécie de forrageira a ser ensilada, pois as pesquisas indicam técnicas específicas (como aplicação de aditivos químicos e microbianos), no intuito de reduzir o impacto das limitações do perfil fermentativo da forragem.
Como você pôde perceber, a silagem de capim apresenta muitas vantagens para a pecuária leiteira, como elevada produtividade, menor custo, perenidade, baixo risco de perdas e maior flexibilidade na colheita.
Com a prática, é possível manter a produção de leite do rebanho, mesmo em épocas desfavoráveis.
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Este conteúdo foi elaborado com a colaboração de Josiane Pereira dos Santos, especialista em Nutrição de Ruminantes na Vaccinar.